Em 2020 a inflação subiu bastante no Brasil. Por mais que alguns indicadores não mostrem muito bem isso, ela subiu bastante sim. Antes da metade de 2021 já temos diversos indicadores mostrando que a inflação continua subindo cada vez mais.
Será que no restante de 2021 e nos próximos anos a inflação vai continuar subindo? E se ela continuar, como que eu protejo os meus investimentos contra a inflação? É sobre isso que eu vou falar nesse artigo, onde vou apresentar 4 investimentos que servem para proteger o seu patrimônio contra a inflação. Então se você também tem interesse nisso, fica comigo até o final.
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Dados de inflação no Brasil
Em 2020, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que é o indicador oficial de inflação do Brasil, fechou em 4,52% no ano. Isso é acima do centro da meta do Banco Central, que era de 4%. Só que, qualquer pessoa que vá ao supermercado sabe que os preços das coisas não subiram só 4,52% em 2020, subiram muito mais. Existem diversos produtos, principalmente alimentos, que subiram 30, 40 e até 50% no ano.
No momento em que escrevo este artigo, já no ano de 2021, a inflação já acumula alta de 6,76% nos últimos 12 meses de acordo com o indicador IPCA. Muito acima do centro da meta de inflação de 3,75% do Banco Central. Mas mesmo assim, os preços dos produtos no supermercado continuam subindo muito acima disso.
Então por que o indicador IPCA só mostra um aumento de 6,76%? Porque o IPCA é um indicador que faz uma média do preço de diversos produtos e serviços diferentes.
E como 2020 foi um ano muito atípico, e 2021 continua sendo, basicamente o que aconteceu foi que, todos os produtos e serviços que as pessoas deixaram de consumir (ou consumiram muito pouco) em 2020, caíram de preço (passagens aéreas por exemplo). Enquanto que os produtos e serviços que as pessoas mais consumiram em 2020, como os alimentos, subiram muito de preço. Então, fazendo uma média das coisas que caíram de preço com as coisas que subiram de preço, o indicador fechou 4,52% em 2020 e está em 6,76% até maio de 2021.
Por esse motivo que, por mais que o IPCA seja o indicador oficial de inflação do Brasil, ele não representa muito bem a inflação da maior parte das famílias brasileiras.
Só que existe outro indicador de inflação, que é o IGP-M, calculado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), que leva muito mais em conta o preço dos produtos no atacado, ou seja, mais no início da cadeia de produção, e também para os consumidores finais, que fechou o ano de 2020 em 23,14%. Ou seja, foi uma representação muito mais próxima do quanto foi a inflação da maior parte dos brasileiros em 2020. E até maio de 2021, o IGP-M acumulado nos últimos 12 meses já está em 32,02%.
Mas beleza, será que a inflação vai continuar subindo? E como se proteger contra a inflação?
Situação econômica do Brasil
Antes de falar sobre como se proteger da inflação em 2021 e nos próximos anos, é importante entender qual a situação da economia brasileira e o que está ocasionando essa inflação acelerada.
Os principais fatores que fizeram com que a inflação em 2020 ficasse tão alta foram: a situação fiscal do Brasil, que está muito endividado, aliado a uma taxa de juros aparentemente bem fora do lugar (muito baixa). E tudo isso acarretou em uma fuga de capital estrangeiro do Brasil, fazendo o dólar subir. E com o dólar alto, os preços de diversos produtos aqui dentro sobem. Além disso também tem a questão da oferta dos produtos que diminuiu muito com a crise, enquanto a demanda se manteve devido aos auxílios do governo.
De acordo com o boletim Focus, que é um relatório do banco central com as expectativas para a inflação, PIB, taxa Selic e alguns outros indicadores, no início de 2021 eles esperavam que o IPCA do ano de 2021 ficasse em 3,32%. Uma semana depois eles já subiram a expectativa deles do IPCA fechar em 3,43% em 2021. E no relatório mais recente do boletim Focus o banco central já espera que o IPCA feche 2021 em 5,15%.
Ou seja, as expectativas para inflação segundo o IPCA estão subindo semana após semana. Portanto, com base em tudo isso, é de se esperar que sim, que em 2021 a inflação seja alta novamente e possivelmente no ano seguinte também.
Então como que eu protejo os meus investimentos contra a inflação nesse cenário?
O que fazer com a reserva de emergência?
Antes de tudo, a reserva de emergência! Com a inflação tão alta e a Selic bem baixa (no momento em que escrevo este artigo está em 3,75%, mas o BC quer elevar a Selic até 5,5% até o final do ano de 2021), o que eu faço com a reserva de emergência?
Por mais que o Banco Central continue elevando a taxa Selic, ela continua abaixo da inflação acumulada nos últimos 12 meses. Ou seja, os nossos investimentos estão com juros reais negativos! Então o que fazer com a reserva de emergência?
Recentemente eu vi uma pessoa perguntando se não é uma boa ideia colocar a reserva de emergência no tesouro IPCA+, porque assim ela vai estar protegida contra a inflação.
Pelo amor de Deus! Não faça isso. A reserva de emergência é um dinheiro que precisa estar em um investimento sem altas oscilações. E o tesouro IPCA tem marcação a mercado. Isso significa que o preço desse título oscila diariamente. E é possível sim perder dinheiro dinheiro no tesouro IPCA se você resgatar antes do prazo. Principalmente agora que a taxa Selic está com tendência de subir.
Caso você não saiba como funciona isso, neste vídeo eu explico em detalhes como funciona a marcação a mercado nos títulos do Tesouro Direto. Recomendo que assista para saber quando é o melhor momento de investir em cada título, e como não perder dinheiro no Tesouro Direto:
Tá, mas então o que eu faço com a minha reserva de emergência? E a resposta é: NADA!
A reserva de emergência precisa estar em investimentos com liquidez diária e com baixo risco de mercado. Então, sim, ela vai render menos do que a inflação. Simplesmente aceite isso. Pare de ficar se preocupando se a reserva de emergência vai estar em um investimento que rende 100% do CDI, 103 ou 105% do CDI. Isso não faz a menor diferença!
É com o restante da sua carteira de investimentos que você precisa se preocupar. Com a parte da sua carteira que você investe pensando no longo prazo, sem prazo de vencimento, essa sim a gente precisa tentar proteger ao máximo contra a inflação.
Como se proteger da inflação?
Agora sim, vamos para os 4 investimentos que podem ser utilizados para proteger o seu patrimônio contra a inflação.
Tesouro IPCA
Então, o primeiro investimento que você pode ter na sua carteira para se proteger contra a inflação é sim um Tesouro IPCA. Mas reiterando, nunca usar ele para a reserva de emergência, o tesouro IPCA+ você pode alocar uma parte do seu patrimônio que você não vai precisar no curto prazo, sabendo que se resgatar antes, é possível sim perder dinheiro.
Mas deixando até o vencimento, o tesouro IPCA é um bom investimento para proteger o dinheiro investido contra a variação da inflação, pois ele sempre vai render o IPCA mais uma taxa prefixada. Ou seja, garante que você terá um rendimento real acima da inflação.
Ações
O segundo investimento que é muito importante ter na sua carteira e que ajuda a proteger contra a inflação são as ações.
As ações são pequenos pedaços de empresas que são negociadas na bolsa de valores. E ao investir em empresas você está indiretamente protegendo o seu dinheiro contra a inflação. Por que isso?
Porque as empresas vendem produtos e serviços para os seus clientes. Só que elas também sofrem com a inflação. Se uma empresa produz bebidas, alimentos, serviços, seja lá o que for, e os seus custos de produção sobem por conta da inflação, o que ela vai fazer é pegar esse custo de produção mais alto e colocar no preço de venda dos seus produtos.
Ou seja, ela vai repassar a inflação para os clientes para que ela não seja tão afetada. Algumas empresas vão fazer isso mais rápido, já outras vão segurar um pouco mais para não “assustar” os clientes de uma vez só (caso elas tenham margem para isso). Mas eventualmente elas vão ir repassando a inflação para os seus preços, para que elas continuem tendo lucro e não venham à falência. Por isso que, investindo em empresas, indiretamente você está protegendo o seu dinheiro contra a inflação.
Fundos imobiliários
O terceiro investimento que você pode utilizar para se proteger da inflação são os fundos imobiliários.
Os fundos imobiliários são fundos de investimentos fechados que investem em imóveis. E muitos imóveis têm os seus contratos de aluguéis corrigidos pelo indicador IGP-M.
Claro que não são todos os imóveis que possuem os seus aluguéis corrigidos pelo IGP-M, então tem que analisar os fundos imobiliários que você vai investir para ver como são corrigidos os contratos.
E mesmo os imóveis que são corrigidos pelo IGP-M, não significa que a correção do aluguel vai ser todo o valor do IGP-M em todos os anos. Foi possível ver isso no início de 2021. Como o IGP-M em 2020 foi mais de 23%, os inquilinos negociaram com os donos dos imóveis para não corrigir tudo isso. Imagina o seu aluguel subir mais de 20% de um ano para o outro. Isso é uma paulada!
E como a demanda por imóveis têm caído, existem muitos imóveis vagos, então os inquilinos estão com bastante poder de barganha. Porque basicamente eles falam: “olha só, se você aumentar o meu aluguel em 20%, tem outros 3 imóveis vagos só aqui nesse mesmo prédio, iguais a esse que eu moro, onde o aluguel está bem mais baixo e não vai ser reajustado. Então se você aumentar tudo isso, eu me mudo”. Simples assim.
Por isso que a negociação dos reajustes de alugueis nesse ano tem ficado bem abaixo de todo o valor de 23% do IGP-M. Mas, de uma maneira geral, ao investir em fundos imobiliários você vai ter sim uma certa proteção contra a inflação. Até porque a tendência é ir repassando nem que seja aos poucos essa inflação acumulada para os aluguéis nos próximos anos.
Investimentos internacionais
E o quarto e último investimento que é muito importante ter para se proteger contra a inflação são investimentos internacionais. De preferência atrelados ao dólar.
Existem várias formas de se expor ao mercado americano. Você pode investir através de ETFs aqui no Brasil que investem no mercado americano.
Você pode investir em BDRs, que são recibos de empresas estrangeiras que são negociados aqui na bolsa brasileira, pois eles têm a correção do dólar também.
Ou você pode abrir uma conta em uma corretora de valores lá nos Estados Unidos e investir diretamente lá. Que também é bem fácil de fazer.
Mas qualquer uma dessas 3 formas você vai estar se expondo ao dólar. E por que isso é tão importante?
Por vários motivos. Mas um deles, e que está relacionado ao tema desse artigo, é que a maior parte dos fatores que estão fazendo a inflação subir aqui no Brasil, são os mesmos que estão fazendo o dólar subir também. Em 2020 por exemplo o dólar subiu muito mais do que a inflação aqui no Brasil. Ou seja, o dólar acaba sendo um dos fatores que fazem a inflação subir aqui no Brasil.
Por isso que, de certa forma, ao ter uma parte dos seus investimentos dolarizados, você vai estar protegido contra a inflação.
Conclusões
Para resumir então o que a gente viu nesse artigo: como se proteger da inflação?
Primeiro, a reserva de emergência não tem o que fazer, ela vai estar com rentabilidade real negativa durante um bom tempo sim, então nem se esquenta com isso. Agora, para o restante da sua carteira de investimentos, para a parte que não tem prazo de vencimento, você pode investir em:
- Tesouro IPCA
- Ações
- Fundos imobiliários
- Investimentos internacionais
Comenta aí embaixo o que achou desse artigo. Pode deixar aí qualquer dúvida que você tenha ficado também.
Abraços,
Francisco
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